23/10/2020
Um médico brasileiro que era voluntário nos testes da vacina de Oxford contra o coronavírus morreu por complicações de covid-19. A vítima é o carioca João Pedro Rodrigues Feitosa, de 28 anos. Ele morreu no dia 15 de outubro, mas a notícia da morte veio à tona na quarta-feira (21) após reportagem do jornal O Globo.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) confirmou a morte de um voluntário brasileiro, mas afirmou que, por questão de sigilo, não podia revelar a identidade da vítima. A Anvisa disse que foi informada do falecimento na última segunda-feira (19). Segundo a agência, uma investigação foi realizada pelo Comitê Internacional de Avaliação de Segurança, que sugeriu o prosseguimento do estudo.
A vacina é desenvolvida pela farmacêutica sueco-britânica AstraZeneca e pela Universidade de Oxford e é considerada uma das mais promissoras entre os imunizantes atualmente em teste.
Em comunicado, a Universidade de Oxford informou que, após avaliação cuidadosa do caso, “não houve preocupações quanto à segurança do ensaio clínico”.
Assim como a Anvisa, a AstraZeneca e a Universidade de Oxford alegam cláusulas de sigilo para não divulgar detalhes do caso. No entanto, fontes ligadas à pesquisa afirmaram à TV Globo que o voluntário recebeu placebo, e não o imunizante.
Até o momento, aproximadamente 8 mil voluntários participaram de testes da vacina no Brasil. O estudo é randomizado e cego, ou seja, metade dos voluntários recebe o imunizante, e a outra metade, não. Os participantes não sabem se receberam ou não a dose da vacina.
Segundo nota de pesar divulgada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde Feitosa estudou, ele estava atuando na linha de frente no combate ao novo coronavírus nas redes privada e municipal de Saúde do Rio de Janeiro.
“A Reitoria da UFRJ — juntamente com toda a comunidade universitária — presta sinceras condolências aos familiares e amigos do nosso ex-aluno em meio a esse momento de tristeza que ceifou a vida do João, que havia acabado de se diplomar e não poupou esforços para atuar no enfrentamento da pandemia de covid-19, que já acumula mais de 40 milhões de casos no mundo”, diz a nota.
Continuidade do estudo
Responsável pelo estudo no Rio de Janeiro, o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) disse, também em nota, que análises rigorosas dos dados colhidos até o momento “não trouxeram qualquer dúvida com relação a segurança do estudo, recomendando-se sua continuidade”.
O instituto afirma que, após a inclusão de mais de 20 mil participantes nos testes ao redor do mundo, todas as condições médicas registradas foram cuidadosamente avaliadas pelo comitê independente de segurança, pelas equipes de investigadores e autoridades regulatórias locais e internacionais.
A vacina desenvolvida pela AstraZeneca e pela Universidade de Oxford é tida pelo governo brasileiro como uma das principais apostas para a imunização contra o covid-19 no país.
No mês passado, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) assinou o contrato de Encomenda Tecnológica (Etec) com a AstraZeneca. A Etec garante ao Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) o acesso a mais de 100 milhões de doses do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para o processamento final (formulação, envase, rotulagem e embalagem) e controle de qualidade, ao mesmo tempo em que garante à Fiocruz a transferência total da tecnologia.
Pausa nos testes
Em setembro, a AstraZeneca interrompeu os testes da vacina de Oxford para investigar uma suposta reação adversa grave em uma paciente no Reino Unido. Um comitê independente foi formado para revisar a segurança dos ensaios, algo que a empresa e a Organização Mundial da Saúde (OMS) descreveram como um evento rotineiro em grandes estudos médicos que envolvem milhares de voluntários. Os testes foram retomados quatro dias depois.
A vacina de Oxford e da AstraZeneca usa um adenovírus que carrega um gene para uma das proteínas do coronavírus Sars-Cov-2. O adenovírus é projetado para induzir o sistema imunológico a gerar uma resposta protetora contra o vírus causador da covid-19. A tecnologia ainda não foi usada em uma vacina aprovada para uso humano, mas foi testada em vacinas experimentais contra outros vírus, como o causador do ebola.
O imunizante de Oxford foi o primeiro a receber autorização para testes no Brasil. Depois, mais três receberam a autorização, o mais recente da Janssen, unidade farmacêutica da Johnson & Johnson.
No começo desta semana, o Instituto Butantan, parceiro da farmacêutica chinesa Sinovac no país, anunciou que os resultados preliminares dos ensaios clínicos da fase 3 da vacina contra o coronavírus que estão sendo feitos no Brasil revelaram a segurança do imunizante.
(Com Deutsche Welle Brasil)
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